As implicações do coronavírus COVID-19 nas diversas dimensões e áreas da vida quotidiana são inúmeras, inclusive no momento de luto.
Dependendo da cultura de cada país, religião ou crença, a perda de alguém tem por norma associados rituais que em si conferem ao enlutado a possibilidade da despedida e a de prestar a sua homenagem a quem parte.
Ao longo dos últimos quinze anos, acompanhei centenas de casos, nos quais os lutos estavam na base da origem da sintomatologia muitas vezes depressiva e ansiosa. Muitos lutos são camuflados pelos demais desafios impostos pela vida, vida essa que naturalmente vai acontecendo e colocando à prova os nossos recursos pessoais.
Atualmente temos pessoas a sofrer por terem familiares e amigos em lares ou hospitais que não podem visitar pelo risco de contágio, estando impedidas de os apoiar e nutrir e com receio que, na sua vulnerabilidade, possam partir sem o calor do afeto daqueles que amam.
A ausência da despedida, os sentimentos de culpa e até de revolta estão na base de muitos lutos patológicos ou na dificuldade do enlutado vivenciar e avançar ao longo das fases ou ciclos do luto. Estes ficam como que aprisionadas num luto crónico, também designado por alguns autores de “Ciclo Perpétuo da Dor” onde o luto patológico aparece como resultado da contenção ou negação da dor.
Se a dor da perda já é por si só difícil, mais difícil se torna num período onde ficamos restritos em abraços e calor humano, onde nos são “negadas” manifestações de dor partilhada, de afetos e onde a força solidária de parentes e amigos, por força das circunstâncias, se encontra distante ou até inexistente.
Procurar um profissional de saúde pode torna-se essencial para o ajudar a lidar com a perda, integrá-la e encontrar novas formas de amar depois do amor…
Lembre-se que a distância exigida neste momento, é protetora! Lembre-se que é por amor que o faz! Lembre-se que nestas circunstâncias, o distanciamento físico não tem de ser necessariamente um distanciamento emocional. Poderá acompanhar os seus recorrendo às novas tecnologias, solicitando o apoio das equipas que estão no terreno ou ainda a outras figuras de referência como vizinhos e amigos próximos.