“A vida são só dois dias” e “O tempo corre veloz” são duas expressões que certamente já ouviu para expressar a multiplicidade de experiências, sensações e pensamentos que ocorrem num determinado período temporal, fazendo com que a perceção do mesmo seja a de um período célere e fora do nosso controlo.
O tempo é um dos recursos mais democráticos que alguém pode ter – 24 horas por dia para todos! O que fazemos com ele é que dita, muitas vezes, a perceção de ausência de controlo e de que “a vida nos foge pelas mãos”. Tal perceção, leva muitas vezes a estados depressivos (se o nosso foco se prender com aquilo que deveríamos ter feito no passado e não fizemos) e ansiosos (se o nosso foco estiver no futuro e considerarmos que o mesmo não dará para realizar todas as concretizações e sonhos a que nos propusemos). Vivemos assim presos numa realidade que não existe! – a do passado e a do futuro! Sendo que a realidade é aqui e agora, então urge encontrarmos formas de colocar a nossa atenção no momento presente!
A prática diária de meditação, tem-se revelado uma das formas de nos mantermos no momento presente, reduzindo estados de ansiedade, stress, cansaço e infelicidade.
Uma das dificuldades que os iniciantes na meditação sentem é que não têm tempo! A boa notícia é que basta 10 a 20 minutos diários para promovermos um estado progressivo de bem-estar, tudo isto, durante a realização de atividades que já fazemos no nosso dia a dia… Vejamos como!
A meditação, entre outras definições, é um estado de contemplação, onde o lado esquerdo do cérebro, responsável pela perceção do momento presente e do raciocínio lógico é mais estimulado, tornando-nos mais presentes, racionais e lógicos, desativando as emoções negativas que tantas vezes “assombram” o nosso quotidiano.
Ao associarmos um estado de relaxamento a uma respiração adequada e um estado de contemplação, estamos a induzir o nosso corpo a produzir mais ocitocina, que é uma hormona de regulação do nosso sistema simpático promotor da ativação do nervo vago, cortando a produção de cortisol e noradrenalina, levando o indivíduo a um estado biológico de homeostasia, equilíbrio e bem-estar.
São muitos os autores a abordar a temática da meditação e os princípios pelos quais nos devemos guiar para efetuar uma boa prática. Porque a meditação é acessível a todos, seguem algumas atitudes de fácil implementação para que possa iniciar a sua prática:
1ª atitude – Julgar versus Não julgar!
Julgar é algo inerente ao ser humano! Quem é que nunca avaliou, julgou ou valorizou algo ou alguém? Temos uma tendência contínua de atribuir significados às experiências de acordo com escalas de valor: bonito versus feio, bom versus mau, melhor versus pior,…
Se por exemplo estivermos perante um pôr-do-sol, é comum o pensamento “Que lindo pôr-do-sol”… hoje em dia tantas vezes seguido pelo pensamento, “Vou tirar uma fotografia para colocar no Instagram ou Facebook!”… e assim se “perde” o momento presente…
O desafio desta etapa é apenas contemplar! Observar o momento, as sensações que dele decorrem, sem depositar grande energia em pensamentos, somente observar e não julgar se estivermos a julgar. Assumimos, portanto, o papel de observadores.
2ª atitude – Impaciência versus Paciência
Quantas vezes por dia dá consigo a ter pensamentos ou comportamentos frenéticos de querer tudo para ontem? Eis alguns exemplos: o filho que demora a vestir-se ou a tomar o pequeno almoço; a fila de trânsito que parece não ter fim; o computador que demora a arrancar;…
Os exemplos anteriores, entre outros do quotidiano, fazem com que muitas vezes estejamos impacientes e ansiosos. Quando alguém me diz “não posso parar!”, por norma questiono se está a fugir de algum lugar ou com pressa para chegar a algum lado, sendo que muitas vezes não há uma resposta clara.
Se reparar, na natureza tudo tem o tempo certo para acontecer: o pássaro estar preparado para sair do ovo, a semente que demora a germinar, a lagarta que permanece no casulo até se transformar em borboleta…
O desafio desta etapa é percecionar as coisas como elas realmente são! Quando os seus pensamentos “estiverem a mil à hora”, lembre-se de abanar um globo de neve e aguardar que esta repouse novamente até ficar tudo nítido. Aplicar a 1ª atitude irá ajudá-lo!
3ª atitude – Repetição versus Primeira vez!
O agora acontece pela primeira vez! A água que flui pelo rio, flui pela primeira vez; as nuvens no céu, passam pela primeira vez…
Ver, escutar ou sentir como se fosse a primeira vez, permite-nos explorar as situações com curiosidade e com a mente aberta a novas oportunidades, sem os filtros habituais e sem as lentes com que nos habituamos a “ler” o mundo que nos rodeia.
O desafio desta etapa é observar tudo como se fosse a primeira vez, sem julgar, sem expectativas e sem preconceitos!
4ª atitude – Desconfiança versus Confiança
Quando acorda, dá por si a pensar se está a respirar, ou se o coração está a bater? Muito provavelmente a sua resposta será que não, pois temos a confiança de que internamente, estas e outras funções do corpo estejam em funcionamento. Se temos confiança na nossa fisiologia, porque não ter confiança na nossa sabedoria interna, nas nossas emoções, na nossa intuição, ou naquilo que estamos a pensar ou a sentir?
A ausência de confiança em nós, leva por vezes a estados de ansiedade e insegurança pelo futuro que se avizinha incógnito e consequentemente incontrolável. Perdemos por isso, ainda que momentaneamente, a responsabilidade por nós próprios, levando a que outros o façam por nós.
O desafio desta etapa é confiar mais em si. Levar o foco da atenção para as sensações do corpo, emoções, habilidades, etc. Quanto maior for a confiança em si, maior a confiança para lidar com tudo aquilo que o rodeia.
5ª atitude – Esforço versus Não esforço
Certamente já pensou ou verbalizou algo como “esforcei-me tanto!…” Invariavelmente passamos a vida a tentar ser aquilo que achamos ser o melhor para nós, aquilo que a sociedade espera de nós, ou aquilo que os outros esperam que sejamos… Pensamentos como “Tenho de conseguir. Tenho de tentar. Tenho de controlar.”, desviam-nos da atenção daquilo que é, e as coisas são o que são!
O desafio desta etapa é dar espaço para as coisas fluírem e seguirem o seu rumo natural. Não quero com isto dizer que deva largar as suas tarefas ou objetivos, simplesmente deverá realizar as suas atividades sem expectativas, aproveitando mais o trajeto do que a meta em si!
6ª atitude – Recusa versus Aceitação
Aceitar que existem situações que não podemos alterar, que as coisas são o que são e que pensamentos são pensamentos, promove a resiliência. Existem situações pelas quais permitimos que a nossa energia se esgote. Porque o foco da nossa atenção se centra naquilo que não podemos controlar e muitas vezes nos recusamos a aceitar o que nos rodeia.
Aceitar não é sinónimo de aprovar, desistir ou resignar! Aceitar significa observar os factos com objetividade, sem que para isso tenha de me afastar, julgar ou evitar.
O desafio desta etapa é deixar de lutar contra a maré! É aceitar as coisas como elas são, é aceitar-se a si próprio como é para obter maior compreensão. No momento em que aceita, e em que experiencia a atitude de não julgar e de não esforço, então talvez a mudança ocorra…
7ª atitude – Prender versus Desprender
Cora Coralina disse “Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: Leve tudo que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas… Daqui para frente levo apenas o que couber no bolso e no coração. “.
Muitas vezes somos vítimas das nossas próprias armadilhas, sejam elas pensamentos, situações, emoções… simplesmente não deixamos ir, recusamo-nos a fazê-lo muitas vezes com receio de perdermos parte da nossa identidade, por medo do desconhecido.
Transportar na “mochila” aquilo que já não tem função para a nossa vida, aquilo que não necessitamos para o dia seguinte, só faz com que a energia se esgote, o cansaço aumente, e as dores nas costas se instalem!
O desafio desta etapa é libertarmo-nos daquilo que já não tem função na nossa vida, praticar o desapego e deixar ir. Se já praticou todas as atitudes anteriores, certamente se tornará mais simples, praticar a 7ª atitude!